Nasci em Moçambique, mais precisamente em Alto Mahe, Lourenço Marques, a 10 de Março de 1974, bem perto da hora do jantar (a pontualidade começou logo de pequenino).
Nesses tempos conturbados da nossa Historia recente, tudo me passou ao lado, o famoso 16 de Março com Regimento das Caldas da Rainha a lançar-se na aventura do derrube do regime (enquanto isto se passava por certo dormia entre duas mamadas, e um choro prolongado), o 25 de Abril ah esse pois já era quase um homem, tinha 46 dias de vida, mais 17 anos e uns pozinhos e já poderia votar.
O que é certo é que com a descolonização e o estado de sitio que se vivia por aquelas bandas, meses depois estava eu a ser entregue na fronteira da África do Sul aos meus avós maternos. Ou seja aos teus bisavós. Por lá vivi feliz, até aos meus 4 anos, altura em que viajei para Portugal (a metrópole como se dizia na altura). Era uma altura de mudança, a vivenda foi trocada por uma tenda canadiana, o relvado de fronte da casa era agora a areia do parque de campismo da ilha de Faro, as grandes palmeiras por certo só podiam ter sido substituídas por aqueles pequenos pinheiros, raquíticos que se avistava na outra margem.
Como a vida muda, o nosso pouco dinheiro estava preso na Alemanha, (o novo governo Moçambicano não autorizava a saída de divisas do pais e alternativa era a candonga) o trabalho escasseava e o meu pai ainda tentava viver um estilo de vida que já não tinha. As dificuldades aumentaram a olhos vistos, pedir um prato de sopa fiada para mim, foi para a minha mãe, por certo a gota de água que fez transbordar o copo; dias depois estava a caminho de Almada para casa da minha madrinha e do meu tio e não muito tempo depois recebia a noticia do divorcio dos meus pais. Sinceramente julgo que não me afectou, afinal estava a ter todo o amor que uma criança precisa.
